Necrochorume: O que é e como impacta o meio ambiente?

Necrochorume

Imagine um líquido viscoso, com um odor que lembra podridão, infiltrando-se silenciosamente no solo de um cemitério. Esse é o necrochorume, um subproduto da decomposição humana que, embora pouco discutido, carrega sérias implicações ambientais e sanitárias.

Trabalhando com questões de sustentabilidade, percebemos como a falta de atenção a esse líquido pode afetar comunidades inteiras. Vamos entender o que é esse material, seus efeitos e como lidar com ele.

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Conteúdo
  1. O que é necrochorume e como ele se forma?
  2. Impactos ambientais do necrochorume
    1. Riscos biológicos e impactos na saúde pública
  3. Qual é o cheiro do necrochorume e por que ele é tão forte?
  4. Quantidade e duração do necrochorume
    1. Mitos e verdades
  5. Soluções para mitigar os riscos do necrochorume
    1. Legislação e normas técnicas
    2. O futuro da gestão de cemitérios
  6. FAQ
    1. 1. Necrochorume é perigoso?
    2. 2. Pode chegar à água que bebemos?
    3. 3. Quanto tempo leva para desaparecer?
    4. 4. Como saber se há contaminação?
    5. 5. Cemitérios modernos são seguros?

O que é necrochorume e como ele se forma?

Necrochorume é o líquido resultante da decomposição de corpos em cemitérios. Ele surge durante a fase de putrefação, quando enzimas do próprio corpo (autólise) e microrganismos, como bactérias e vírus, quebram tecidos orgânicos.

Composto por cerca de 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas, como putrescina e cadaverina, esse fluido tem uma aparência castanho-acinzentada e um cheiro forte, muitas vezes descrito como nauseante. A formação começa cerca de seis meses após o sepultamento e pode durar anos, dependendo do clima, tipo de solo e profundidade da cova.

Por que isso acontece? O corpo humano, rico em água e matéria orgânica, é um banquete para microrganismos. Quando a chuva ou a umidade do solo entra em contato com os restos mortais, acelera a liberação desse líquido, que pode carregar patógenos perigosos.

Em cemitérios mal planejados, esse processo é ainda mais problemático, já que o fluido pode vazar para o solo e lençóis freáticos.

Impactos ambientais do necrochorume

Impactos ambientais do necrochorume
Impactos ambientais do necrochorume

O que o necrochorume pode causar? A resposta é preocupante. Esse líquido é um poluente potente, capaz de contaminar solo e água subterrânea com nitratos, fosfatos, metais pesados e microrganismos patogênicos.

Quando atinge aquíferos, pode comprometer poços e fontes de água potável, especialmente em comunidades que dependem de poços rasos. Estudos apontam que 75% dos cemitérios brasileiros têm problemas sanitários, como solos inadequados ou proximidade com áreas residenciais, agravando o risco de contaminação.

ImpactoDescriçãoRisco associado
Contaminação do soloInfiltração de substâncias tóxicas como putrescina e cadaverinaDegradação da qualidade do solo
Poluição de aquíferosNecrochorume atinge lençóis freáticos, contaminando água subterrâneaDoenças como hepatite A e febre tifoide
Emissão de gasesLiberação de metano e outros gases durante a decomposiçãoMaus odores e impacto na qualidade do ar
Atração de vetoresPresença de roedores e insetos devido ao odor forteTransmissão de doenças

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1998, alertou sobre os riscos de cemitérios para a saúde pública, e no Brasil, a Resolução CONAMA 335/2003 exige licenciamento ambiental para mitigar esses impactos. Ainda assim, muitos cemitérios antigos não seguem essas normas, o que amplifica o problema.

Riscos biológicos e impactos na saúde pública

Quando alcança lençóis freáticos, ele pode carregar micro-organismos perigosos, como os causadores de hepatite A, tétano ou tuberculose. Esses patógenos, junto com substâncias químicas de medicamentos usados em vida, como quimioterápicos, aumentam os riscos biológicos.

Isso reforça a necessidade de monitoramento constante para proteger comunidades que dependem de poços ou rios.

Risco biológicoDoença potencialImpacto na comunidade
Bactérias patogênicasHepatite A, tétanoContaminação de água potável
VírusTuberculoseRisco em áreas sem saneamento
Substâncias químicasIntoxicaçãoExposição por consumo de água

Qual é o cheiro do necrochorume e por que ele é tão forte?

O cheiro do necrochorume é uma característica marcante. Descrito como um odor fétido, que remete a carne em decomposição, ele é causado por compostos como putrescina e cadaverina, liberados durante a putrefação.

Esses compostos são subprodutos naturais da quebra de proteínas e têm um impacto sensorial imediato, muitas vezes causando náuseas. Esse odor não apenas incomoda, mas também atrai vetores como ratos e moscas, aumentando o risco sanitário.

Por que o cheiro é tão persistente? A resposta está na composição química do líquido, que combina alta carga orgânica com bactérias anaeróbias. Solos argilosos, comuns em muitas regiões brasileiras, retêm melhor o líquido, mas solos arenosos permitem maior infiltração, espalhando o odor e os poluentes.

Quantidade e duração do necrochorume

Quantos litros de necrochorume um corpo produz? Estima-se que um cadáver humano gere entre 30 e 40 litros desse líquido nos primeiros seis meses, mas, em condições específicas, como solos úmidos ou climas tropicais, a produção pode chegar a 600 litros por quilograma de peso corporal ao longo de 5 a 10 anos. A duração do processo depende de fatores como:

  • Clima: Ambientes quentes e úmidos, como no Brasil, aceleram a decomposição.
  • Tipo de solo: Solos arenosos favore “‘A duração do necrochorume pode variar muito’, explica o engenheiro ambiental Victor Silvestre. ‘Em solos úmidos, o processo pode se estender por uma década’.”

Quanto tempo dura o necrochorume? O líquido continua sendo liberado enquanto houver matéria orgânica para decompor, o que pode levar de 2 a 10 anos. Em cemitérios com alta densidade de sepultamentos, como durante a pandemia de Covid-19, o volume acumulado pode atingir níveis críticos em pouco tempo, sobrecarregando o meio ambiente.

Mitos e verdades

Para esclarecer, aqui vão alguns mitos e verdades:

MitoVerdade
Necrochorume é radioativoNão há risco radioativo significativo
Só cemitérios antigos poluemQualquer cemitério sem manejo pode contaminar
É um problema menorPode afetar saúde pública e meio ambiente
Não há soluções viáveisTecnologias modernas mitigam impactos

Esses esclarecimentos são cruciais para desmistificar o tema e incentivar ações preventivas.

Soluções para mitigar os riscos do necrochorume

Tem muitas bactérias no cemitério? Sim, e muitas delas são patogênicas, capazes de causar doenças como tétano, cólera e hepatite. Felizmente, há soluções para reduzir os impactos do necrochorume. Algumas tecnologias modernas incluem:

  • Filtros biológicos: Utilizam materiais porosos, como cascalho, para degradar o líquido.
  • Mantas absorventes: Transformam o necrochorume em gel, evitando infiltração.
  • Crematórios: A cremação é a opção mais sustentável, eliminando a produção de necrochorume.
  • Drenagem eficiente: Sistemas que captam e tratam o líquido antes que ele contamine o solo.

Algumas ONGs ambientais, conseguem fazer a implementação de mantas absorventes em cemitérios o que reduz significativamente o odor e os riscos de contaminação. Além disso, a cremação ganha popularidade em áreas urbanas, onde o espaço é limitado e a sustentabilidade é prioridade. No entanto, questões culturais e religiosas ainda limitam sua adoção em algumas comunidades.

SoluçãoVantagemDesafio
Filtros biológicosDegradação natural do necrochorumeCusto de instalação
Mantas absorventesRetenção do líquido, evitando infiltraçãoNecessidade de substituição periódica
CremaçãoElimina produção de necrochorumeResistência cultural
Drenagem profundaRedireciona o líquido para tratamentoAlto custo de infraestrutura

Legislação e normas técnicas

No Brasil, a Resolução CONAMA nº 335/2003 é um marco na gestão de cemitérios, exigindo licenciamento ambiental para novos empreendimentos. Ela determina que o fundo das sepulturas esteja a pelo menos 1,5 metro do lençol freático e que sejam usados sistemas de contenção, como mantas impermeabilizantes.

A vigilância sanitária, amparada por normas da Anvisa, também regula o manejo de resíduos biológicos, garantindo que cemitérios não se tornem focos de poluição.

No entanto, a realidade é desafiadora. Cerca de 75% dos cemitérios brasileiros, especialmente os construídos antes de 2003, não cumprem integralmente essas regras.

Normas internacionais, como as da OMS, reforçam a necessidade de estudos hidrogeológicos antes da instalação de necrópoles, algo que o Brasil ainda implementa de forma irregular.

O futuro da gestão de cemitérios

Com o aumento de mortes durante eventos como a pandemia, o tema do necrochorume ganhou urgência. Cidades como São Paulo e Manaus já enfrentam desafios com o volume elevado de sepultamentos.

A solução passa por planejamento urbano, tecnologias inovadoras e conscientização pública. Como metáfora, pense nos cemitérios como guardiões silenciosos da memória, mas que, sem cuidado, podem se tornar vilões ambientais.

FAQ

1. Necrochorume é perigoso?

Sim, é potencialmente perigoso. Trata-se de um líquido escuro e viscoso resultante da decomposição de corpos humanos. Rico em matéria orgânica, bactérias patogênicas, metais pesados e agentes químicos, ele pode contaminar o solo, o lençol freático e representar riscos à saúde pública.

Sua composição varia de acordo com o número de sepultamentos, o tipo de caixão, a profundidade da cova e as condições climáticas.

2. Pode chegar à água que bebemos?

Infelizmente, sim. Em locais onde os cemitérios não têm infraestrutura adequada, o necrochorume pode infiltrar-se no solo e atingir o lençol freático, contaminando poços artesianos e aquíferos.

Estudos da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) apontam que em cemitérios antigos ou mal projetados, há risco de infiltração de agentes patogênicos e nitratos, o que pode comprometer a qualidade da água potável.

3. Quanto tempo leva para desaparecer?

O tempo de decomposição de um corpo e, portanto, de produção de necrochorume varia entre 1 e 5 anos, dependendo das condições ambientais. Já o tempo que o necrochorume leva para se degradar naturalmente no solo pode ultrapassar esse período, especialmente se não houver boa drenagem, ventilação e isolamento no cemitério.

Em solos argilosos e úmidos, a decomposição é mais lenta, aumentando o risco de contaminação duradoura.

4. Como saber se há contaminação?

A detecção de contaminação é feita por meio de análises físico-químicas e microbiológicas da água e do solo. Alguns sinais de alerta incluem:

  • Alterações no sabor, cor ou odor da água de poço;
  • Presença de nitrato, coliformes fecais e metais pesados acima dos limites legais;
  • Proximidade de cemitérios sem sistema de contenção, especialmente em áreas de lençol freático raso;
  • Ocorrência de surtos de doenças gastrointestinais em regiões próximas a cemitérios.

O monitoramento ambiental é obrigatório em novos projetos de cemitérios verticais e horizontais.

5. Cemitérios modernos são seguros?

Sim, desde que sigam as normas ambientais e sanitárias exigidas por órgãos como a ANVISA, IBAMA e órgãos ambientais estaduais. Cemitérios modernos contam com:

  • Estruturas de impermeabilização nas sepulturas;
  • Drenagem controlada de necrochorume;
  • Cápsulas biodegradáveis com controle de gases;
  • Monitoramento constante do solo e da água;
  • Sistemas de ventilação e gestão de resíduos funerários.

Referências:

https://ambscience.com/necrochorume/
https://cfq.org.br/noticia/tratamento-e-controle-do-necrochorume-requer-atencao-redobrada-dos-profissionais-da-quimica/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Necrochorume
https://www.teraambiental.com.br/blog-da-tera-ambiental/o-que-os-cemiterios-devem-saber-sobre-o-tratamento-de-necrochorume
https://aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/article/view/21956
https://www2.ufjf.br/engsanitariaeambiental/files/2019/05/TFC_LEONARDO_necrochorume-CORRIGIDO.pdf

Em História e cultura dos cemitérios temos diversos artigos sobre este tema.

Cemitério morada da paz

Apaixonado por história, simbolismo e memória, foi criado o site cemitério morada da paz sendo o idealizador e responsável, uma plataforma dedicada na divulgação de todos os aspectos que envolvem os cemitérios desde arquitetura funerária, arte tumular, rituais e culturas mortuárias, até curiosidades, histórias esquecidas e debates contemporâneos sobre morte e luto.

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